segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Forte presença chinesa em Angola gera sub-economia

A presença chinesa em Angola já ultrapassou a área da construção civil, que foi o sector que abriu portas ao gigante asiático, por vontade própria dos agentes económicos chineses, criando uma sub-economia no país.

A constatação foi hoje avançada pelo director do Centro de Estudo e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, Alves da Rocha, em declarações à Agência Lusa à margem da Conferência Internacional "China em África: desafios e oportunidades para Angola", realizada hoje em Luanda.

Esta conferência tem como objectivo obter um impacto significativo na formulação de políticas governamentais, nomeadamente em Angola, em torno da parceria com a China.

Segundo Alves da Rocha, os sinais da presença chinesa em Angola estão à vista nas estradas e ruas de todo o país, com anúncios na língua chinesa, "o que faz pressupor que há já um sub-mercado, uma sub-economia em Angola entre os chineses".

"Isto pode significar de facto que a presença chinesa em Angola não é apenas uma presença trazida pelas empresas de construção civil, mas já é trazida também pela vontade própria dos agentes económicos chineses para investir e ficar", referiu Alves da Rocha.

A mesma ideia foi reforçada pelo coordenador da Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP), Aguinaldo Jaime, ao afirmar que o investimento privado chinês em Angola tem aumentado nos últimos anos, sem, contudo, avançar números.

"Temos estado a assistir a um aumento da presença chinesa no sector privado em Angola, na área da construção civil, da agro-indústria, e temos já manifestações de intenção na área dos serviços financeiros, quer isto dizer que a presença chinesa está a diversificar-se e é crescente", disse em declarações à Agência Lusa.

Para Alves da Rocha, os sinais da presença chinesa em Angola - estima-se que existam 50 mil cidadãos chineses no país -, indicam que "é para ficar e não se limitará a vir e regressar".

Relativamente ao financiamento chinês a Angola, Alves da Rocha disse que "pode constituir de facto uma oportunidade para o desenvolvimento económico de Angola", mas alertou para a necessidade de não se olhar para a inserção da China em Angola apenas do ponto de vista da oportunidade.

Mas para o economista é necessário analisar-se também "até que ponto é que a China constitui ou não uma ameaça para o crescimento económico de África, e mais concretamente de Angola".

O director do Centro de Estudo e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola criticou também a falta de informação sobre o valor global do financiamento chinês para Angola, o que constitui uma dificuldade para o trabalho de investigação.

"O financiamento gerido pelo Ministério das Finanças está publicado no seu site, mas sobre o gerido pelo Gabinete de Reconstrução Nacional não se tem informação nenhuma", salientou Alves da Rocha, acrescentando que é importante esse dado para uma perspectiva multifacetada das consequências desse financiamento chinês.

Dados apresentados hoje pela investigadora Ana Alves do Instituto Sul-africano de Assuntos Internacionais (SAIIA) revelam que o global do apoio financeiro da China a Angola está perto dos 10 mil milhões de dólares, desde 2002, altura em que foi assinado o primeiro protocolo de financiamento.

"Se será mais ou menos não temos essa informação, porque ela oficialmente não é difundida. Isto pode ser também uma oportunidade para actualizarmos a informação, partindo do princípio de que a investigação que se faz é objectiva, científica e isenta", disse Alves da Rocha.

O financiamento chinês para Angola surgiu depois de falhada a conferência de doadores, que o país contava para o seu processo de reconstrução nacional, tendo o governo chinês suprido essa falha em troca da resolução dos problemas energéticos chineses, com recurso ao abundante petróleo angolano.

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