quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Próximos cinco anos em Cabo Verde vão ser difíceis"


Os próximos cinco anos em Cabo Verde serão difíceis, apesar de o eleitorado ter renovado a maioria absoluta do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), disse à Lusa o analista político cabo-verdiano Corsino Tolentino.

Antigo ministro da Educação e embaixador em Lisboa, Corsino Tolentino considera que o primeiro-ministro José Maria Neves, reconduzido no cargo face aos resultados eleitorais de domingo "tem consciência que vai ter cinco anos difíceis para cumprir as promessas que fez".

No mesmo sentido, e referindo-se à oposição, Corsino Tolentino acredita que "vai situar-se numa perspectiva histórica".

"A oposição não vai ser uma oposição demolidora, a puxar para baixo. A própria oposição está a situar-se numa perspectiva histórica e sabe que o comportamento que tiver hoje vai contar para daqui a cinco ou mais anos", afirmou.

Para Corsino Tolentino, actualmente coordenador do Instituto da África Ocidental, "um dos aspectos negativos que vários observadores atribuem à campanha eleitoral que deu este resultado foi precisamente um certo voluntarismo, para não dizer demagogia, de propostas que por um lado são quase inviáveis no período de cinco anos e por outro lado quase nunca se falou, ou evitou-se quase sempre falar dos recursos, em termos de perspectivas como é que vamos viabilizar as promessas que fazemos".

A questão dos recursos é uma interrogação maior à escassez de riquezas, à baixa produtividade, à fragilidade, reconhecida interna e externa, da economia cabo-verdiana, defendeu.

"É com base nesta economia que nós fazemos estas promessas e se não dissermos onde é que esperamos ir buscar recursos, estamos a ser incompletos, para não dizer que estamos a tentar enganar o eleitor", frisou.

Daí que Corsino Tolentino prefira concentrar-se mais na chamada área dos indecisos, que apenas nos últimos momentos define o sentido de voto.

"É nessa zona que encontramos um grande número de jovens, que têm um nível de instrução e possibilidade de acesso à informação cada vez maior e que, por conseguinte, vai cobrar tanto à oposição como ao Governo nos próximos cinco anos", acentuou.

Outro analista, o antigo chefe da diplomacia cabo-verdiana Jorge Carlos Fonseca, interpreta os resultados das legislativas de domingo como um "voto de confiança sem excessos" e, quanto à oposição, que elegeu mais quatro deputados, uma "votação forte para fazer uma oposição activa, actuante, um papel de fiscalização".

Jurista e actual presidente do Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais, na Cidade da Praia, Jorge Carlos Fonseca lê os resultados de domingo como reflectindo um "velho problema" de Cabo Verde.

"Desde 1995 que têm surgido em Cabo Verde tentativas de furar a bipartidarização do país, mas creio que no fundo a sociedade cabo-verdiana parece dividida em dois blocos que correspondem a duas grandes representações colectivas e essas representações colectivas encaixam-se em dois partidos", sustentou.

Isto é, os cabo-verdianos revêem-se no PAICV, porque vê este como sendo o partido que traz a independência do país, e a outra metade revê-se no MpD, que considera ser o partido que "deu a liberdade e a democracia".

"São duas ideias fundamentais na história recente do país e estas são ideias muito fortes e dividem praticamente o país ao meio", acrescentou.

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