quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Angola quer limpar a sua imagem no estrangeiro

Os adidos de imprensa devem ser considerados elementos cruciais na equipa diplomática a que pertencem, sendo necessário estimulá-los e responsabilizá-los na gestão das tarefas que lhes competem, defendeu, em Luanda, a ministra angolana da Comunicação Social, Carolina Cerqueira.
Segundo a governante, que falava para os participantes no IV Conselho Consultivo do Ministério das Relações Exteriores, os adidos não só devem ser facilitadores de informação, mas também autores no âmbito da promoção e divulgação do seu país junto da imprensa, e, na medida do possível, directamente às populações do país onde actuam.
Não está mal. De acordo com o regime angolano, importa lavar a imagem de um governo que está no poder desde 1975 e de um presidente da República, José Eduardo dos Santos (na foto com Muammar Kadafi e Hosni Mubarak)  que está no poder, sem ter sido eleito, há 31 anos.
É claro que quando a ministra fala de “divulgação do país” está a referir-se à parte da frente de Angola. A outra parte, a dos 70% de angolanos que passam fome, não é para ser revelada, desde logo porque não há no mundo detergente capaz de lavar essa imagem.
“O adido de Imprensa deve divulgar os órgãos de comunicação social actuantes em Angola, e criar mecanismos de divulgação de informação relevante à comunidade angolana no exterior”, sugeriu a ministra.
E sugeriu muito bem. Como tem acontecido, não faltam convites à medida e por medida aos produtores de conteúdos para que visitem Angola e possam, in loco, constatar que o regime é o mais puro, nobre e sublime exemplo de democraticidade, liberdade, civismo e solidariedade social.
Aliás, como diria o ministro socialista português, especialista em comunicação social, Augusto Santos Silva, há cada vez mais produtores de conteúdos a “salivar” na esperança de irem fazer trabalhos na Angola de Eduardo dos Santos.
De fora, como também é imperativo, ficam os Jornalistas, essa classe miserável e sedenta que tenta dar voz a quem a não tem, que procura pensar pela própria cabeça. Esses nunca serão convidados pelos adidos do regime.
A ministra angolana considera também que os adidos devem servir de ponte entre os cidadãos e os órgãos de Comunicação Social em Angola, de modo a que o país tenha acesso às suas comunidades residentes no exterior de forma regular.
Hum. Essa não vai resultar. Por um lado, porque para as autoridades diplomáticas de Luanda, adidos de imprensa incluídos, angolanos no exterior são quase todos negros, sendo os brancos uma espécie descartável. Por outro, porque os angolanos que vivem fora do país sabem distinguir muito bem entre a verdade e a propaganda que existe no seu país.
“Em suma, no quadro de reconstrução nacional, a comunicação social e os adidos de Imprensa, como representantes desta no exterior, devem funcionar como um elemento catalisador na promoção da imagem da nova Angola em paz e em franco desenvolvimento”, salientou Carolina Cerqueira.
Aliás, involuntariamente, a própria ministra disse algo que atira por terra toda a verdade única do regime. Com que então os adidos de imprensa são os representantes da comunicação social no exterior? Essa é mesmo boa.
Diz a ministra que o adido de imprensa deve, na sua prática diária, ser um colaborador permanente do chefe da missão na gestão de informação, “não devendo ser relações públicas e muito menos um corpo estranho de uma equipa, agindo e actuando sempre com ética e deontologia, de modo a dignificar a classe que representa e cumprir com profissionalismo o cargo que desempenha”.
Afinal que classe representam os adidos de imprensa? A dos jornalistas não é certamente, a dos propagandistas do regime é com certeza.

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